sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Encontrada apenas na Ilha da Queimada Grande, jararaca-ilhôa corre risco de extinção

Símbolo da diversidade de espécies presente em Itanhaém, a jararaca-ilhôa (Bothrops insularis) corre risco de extinção. Encontrada apenas na Ilha da Queimada Grande, a 33 km da costa, a cobra está na lista das ‘espécies da fauna silvestre ameaçadas do Estado’, divulgadao no último dia 3 pelo Diário Oficial do Governo do Estado. O decreto n° 53.494, assinado um dia antes pelo governador José Serra e pelo secretário de Estado do Meio Ambiente, Xico Graziano, elenca outros 435 animais ameaçados.

A primeira estimativa da queda preocupante da espécie foi divulgada por pesquisadores do Instituto Butantan em parceria com um pesquisador do Instituto de Biociências da USP na última edição da revista científica South American Journal of Herpetology. Segundo o trabalho, que vem sendo realizado desde 1995, em um período de cerca de 10 anos sua população caiu pela metade, chegando atualmente a cerca de 2.100 indivíduos. Os dados gerados pela pesquisa permitiram, ainda, classificar a jararaca-ilhôa na categoria ‘criticamente em perigo’, que corresponde ao maior grau de ameaça que uma espécie pode ser classificada atualmente.

A biopirataria é apontada pelos biólogos como a principal causa da jararaca-ilhôa estar ameaçada de extinção. Apesar de restrito aos pesquisadores do Instituto Butantan e a pessoas autorizadas pelo Ibama, contrabandistas têm desembarcado na Ilha da Queimada Grande para comercializar a espécie. É isso o que aponta o pesquisador do Butantan, Otavio Marques - responsável pelo projeto que detectou a redução da espécie.

“Temos relatos de pescadores que viram pessoas saindo com caixas cheias de cobras. No início do ano duas alunas foram abordadas no Porto de São Vicente por contrabandistas oferecendo R$ 20 mil para venderem serpentes”. Para ele, a fiscalização no local “está totalmente inoperante”: “Hoje em dia não há impedimento algum para chegar na ilha. Qualquer um pode subir lá”.

APA’S MARINHAS – A criação das Áreas de Proteção Ambiental (APA’s) marinhas, cuja promessa é aumentar a fiscalização e combater a pesca predatória, não impedirá a biopirataria na Ilha da Queimada Grande, opina Marques. O pesquisador afirma ser impossível efetuar um monitoramento durante 24 horas por ser um local perigoso e demandar uma ampla infra-estrutura.

“A proposta mais razoável seria tornar a Ilha da Queimada Grande num parque, seja estadual ou federal. Até mesmo o turismo sustentável poderia inibir a ação dos contrabandistas, porque as próprias operadoras iriam fiscalizar e denunciar a presença desses criminosos no local”.

O decreto do Governo do Estado que criou as APAs marinhas foi publicado na última quinta-feira (9), no Diário Oficial, quatro meses após a data prevista pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado. São três APAs, todas consideradas unidades de conservação de uso sustentável - categoria não tão restritiva quanto a dos parques: do litoral norte, do litoral sul e do litoral centro.

JARARACA ILHÔA E ILHA DA QUEIMADA GRANDE – A jararaca-ilhôa (Bothrops insularis) é uma serpente de espécie única, por ser hermafrodita, ora comportando-se como macho, ora como fêmea, que aprendeu a subir em árvores e possui um veneno cerca de 20 vezes superior as do mesmo gênero continental, a Jararaca.

Ela só pode ser encontrada na Ilha da Queimada Grande - tombada como Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), através do decreto federal n° 91.887, de 5 de novembro de 1985. A fiscalização da ilha, que possui 230.000 m², é atualmente feita pelo Ibama, órgão do Governo Federal. Possui em seu entorno o naufrágio Tocantins, cujas estruturas estão incorporadas ao fundo do mar desde 1933, tornando-se habitat de variada fauna e um dos melhores pontos de mergulho do Estado.

Nenhum comentário: